Aquele com a moça do ônibus.
Seu nome era Camila e eu não a conheci muito bem. Ouvi sua história por acaso no ônibus e não tivemos a chance de nos encontrar mais uma vez. Camila trouxe consigo uma história peculiar para mim, mas normal em outros pontos de vista. Ela em uma quinta-feira se sentou ao meu lado no ônibus e desabafou sobre o cansaço da vida de estudante, eu questionei, me parecia tão nova, como pode estar tão cansada de estudar? E então ela me contou sua história, disse que tinha 20 anos e estudava já fazia 17, eu imaginei então que ela estivesse na faculdade, errada. Camila disse que estava no segundo ano do ensino médio, fez suas grandes críticas sobre não aguentar mais repetir de ano e estudar os mesmos assuntos, e sem deixar tempo para dúvidas ela disse o motivo para ter reprovado tantas vezes: havia casado aos 12 anos, isso mesmo, aos 12 anos! Eu e algumas pessoas do ônibus ficamos em estado de choque com a constatação dela, que falava com imensa naturalidade sobre sua história. Disse que passou quase 1 ano casada, tinha suas tarefas de dona de casa, o marido não gostava que ela perdesse seu tempo com estudo, foi aí que ela reprovou pela primeira vez. Com o tempo veio a separação, voltou para a casa do pais, onde os problemas pareceram piorar. O pai disse que como ela já tinha casado, ela também já tinha idade para trabalhar. Camila só tinha 13 anos, ainda era uma criança, mas a ela foi negado a educação. Passou muitos anos estudando e trabalhando, não dando conta da escola por causa do trabalho, logo, reprovou várias vezes durante o ensino fundamental, aos 17 anos ela se casou mais uma vez. Dessa vez deu certo! Era um cara bacana, que entendia a importância da escola e a tratava bem. Ela me contou isso rindo, como se tivesse ganho na loteria. Camila continua casada, estudando e trabalhando, porém conseguindo levar o barco do jeito que dá. Uma menina doce merece um futuro grandioso, Camila, de longe eu torço por você, quem sabe um dia a gente não se encontra novamente e você me surpreende dizendo que se formou na faculdade, que formou a sua família e hoje é feliz. Sua infância foi roubada, mas sua vida ainda pode ser vivida. Viva!
Ilustração por Mylena Santos |
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