Oscar 2018 | Trama Fantasma

Em Trama Fantasma (Phantom Thread), o estilista Reynolds, interpretado por um deslumbrante Daniel Day-Lewis, tem o hábito de esconder em suas peças de auto custura, citações com pequenas palavras secretas. Uma espécie de "fio invisível" (daí o título ao longa) que liga o criador ao seu emblemático dilema. Este link pernicioso e oculto, Paul Thomas Anderson, está feliz em tentar descrevê-lo. O diretor de Magnólia (1999) sublima a ansiosa perversidade de um amor destrutivo.

''Muito Bom''

Com um olhar Hitchcockiano, Paul Thomas Anderson vem tecendo suas obras magistralmente. Sozinho nos controles, o californiano nos faz balançar de uma torre de marfim a outra, ao som de uma ótima trilha sonora de Jonny Greenwood. Seu olhar é posado com um cinismo muito delicado sobre personalidades tão frágeis quanto a seda usada por Reynolds para sublimar seus admiradores. Se por um lado vemos o Daniel Day-Lewis, bem iluminado, com o que deveria ser o seu último papel, esse designer de moda, que ama a beleza, oscila entre crueldade e ternura. O ator americano torna-se a encarnação dessa alma complexa que vive apenas por e para as mulheres. No outro, rodeado por uma incessantemente e engraçada Lesley Manville (Cyril) e sua traiçoeira Alma (Vicky Krieps, de rara precisão e atuando ponto a ponto com o Lewis), ele se desintegra, se destrói pouco a pouco para revelar-se finalmente em toda a sua grandeza e sua mais pura perversão.

O melhor filme do diretor (desde Magnólia) não seria nada sem o notável trabalho de direção artística, Mark Bridges. Dá vida às fantasias estilísticas de um louco criador de amor pelo classicismo. Os fios de seda e a crosta de algodão materializam neste sublime conto de fadas moderno e artístico da melhor maneira.  Tanto quanto sublime, o diretor com seu roteiro esfrega os ombros com as estrelas, num balé viscontiano de grande beleza. Somos conquistados, encantados com esse humor surpreendentemente britânico, e transcendidos por um amor tão ansioso quanto romântico.