“Creio que
quase sempre
é preciso um golpe de loucura
para se construir um destino.”
Segundo a psicologia, loucura é uma condição caracterizada por
pensamentos incomuns à sociedade. Porém, esses pensamentos devem realmente ser
questionados perante uma visão sociológica, sendo assim taxados de levianos e
mentecaptos ou insanos? Partindo desse pressuposto, muitos ficcionistas tratam
da loucura nas suas obras, da literatura à sétima arte.
Usada, principalmente, para transmitir sensações, confusão, dúvidas e
incertezas; pode até nos dar um vislumbre do efeito da lissofobia (medo de
enlouquecer) quando nos faz acreditar piamente em algo e em seguida desconstrói
a neurose, expondo a loucura presente na veracidade da narrativa, assim
mostrando a linha tênue da sanidade e sua contrapartida.
À exemplo do filme “Ilha do Medo”,
colocando elementos explícitos indicando a perturbação do personagem, e, porém,
distorcendo esses princípios e tornando-os palpáveis, partindo do olhar genérico
do espectador. Quando revela-se cada indicação da obsessão do protagonista,
simultaneamente ilustra como a alienação pode ser propiciada na mente mais
racional, nas condições triviais tais quais as da nossa vida cotidiana.
Com esse sentimento, é simples provar,
sendo inegável honestamente, que há traços inatos de loucura em cada um de nós.
A ficção apresenta os citados na encarnação da persona mais comum possível. Revelando
seu vizinho, seu melhor amigo, seu grande amor, como talvez um possível doente
mental, senão, ao menos, com traços. Se eles podem ser, por que você não?
Torna-se um conflito interno, que nos liga a questionamentos sedutores; é impossível
negar a presença destas estranhas indagações de nosso verdadeiro bem-estar.
Como questiona H. P. Lovecraft em toda sua obra, mostrando a proximidade do
eu-louco de cada um de nós, bastando para isso a sutileza de um acontecimento
estranho.
Isso nos leva ao ponto da realidade, e
como ela pode facilmente se diluir quando lançado um olhar racional sobre a loucura.
Podendo aceitar a tênue linha entre a falta de e a estabilidade psicológica,
também estaríamos aceitando o mesmo no limiar distanciando realidade e ilusão?
O quão frágil torna-se nossa percepção existência, considerando isso? Saber e
não saber, a subjetividade, é o pilar fundamental do diagnóstico de um maluco.
Assim como em “Efeito Borboleta”, não
prometendo certeza nenhuma da realidade em nenhum dos nossos devaneios, e
colocando em dúvida se todos os fatos vividos por nós, nada mais é que um mero pesadelo.
Enfim, as memórias, tão distantes e artificiais, não podem ser nada mais senão
delírios e falsos momentos, nos convencendo de uma mentira sustentada à base de
ignorância e falta de questionamentos?
Seguindo à risca as perguntas, a ordem
social perde-se, afinal é mantida através da falta delas. Provendo daí os sentimentos
de insegurança, medo e insignificância, tal qual acerca de “Ilha do Medo”, onde
no fim a dúvida persiste, e se torna a beleza da obra.
Posso afirmar, sem sombra de dúvida,
que o elemento loucura na ficção, primeiramente, pode parecer um recurso para
pontuar o fim de uma narrativa pobre e mal pensada. Porém gera, quando bem
usado, uma série de incertezas que servem como óleo no motor de discussões. “Era
tudo loucura em Efeito Borboleta então?” “O que era real em Ilha do Medo?” Este
efeito de coloca-nos no mesmo papel de “Balrog tem asas?”, para os fãs de
Tolkien ou “Donnie Darko tinha de morrer para reestabelecer o equilíbrio do
universo tangente?”, particularmente para mim. Essas emanações mantém as obras
vivas, pulsantes.
Acrescentando, antes de concluir, em “Clube
da Luta”, “Matrix” e “Sexto Sentido”, as dúvidas são sanadas no fim. E ainda
assim o clímax no qual anteriormente embarcamos, nos marcam como uma cicatriz.
E a beleza da obra é mantida, se igualmente for a honestidade, nos dando pistas
do resultado de toda a viagem, tornando-a palpável.
Concluindo, podemos afirmar que há algo
de belo na alienação, seja ficcional ou não. A identificação com personagens de
tramas sustentadas com o princípio de insanidade, acontece pela presença inata dessa
neurose em cada um de nós. As dúvidas questionando a realidade e a ilusão,
quando suscitadas na ficção, ressuscitam uma paranoia comum nos pensamentos
humanos, sobre nossa própria existência e a veracidade das dos demais. A
loucura é próxima a cada um de nós e analisá-las, na presença da nossa
sanidade, podem ser de magnífica valia para autoconhecimento. E fazê-lo, nada
mais é que uma questão de escolher uma obra de entretenimento que trate do
tema, e consumi-la sem medo de enlouquecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante!
Seu comentário será visualizado por todos.