''Paterson'' - Filme poético do diretor Jim Jarmusch.

Jim Jarmusch é um diretor peculiar e como alguns críticos o definem de ''diretor cool'' de Hollywood. Desde o vampiresco Amantes Eternos (2013) à série de curtas com diálogos bem construídos em  Sobre Café e Cigarros (2003) é notável como o diretor constrói suas diferentes narrativas com todo o talento e domínio da técnica cinematográfica que poucos os diretores ''indie'' possuem.  

Na trama, Paterson (Adam Driver) é um motorista de ônibus, que mora na cidade cujo o nome também é Paterson em Nova Jersey. Paterson vive uma simples rotina dia após dia: dirige pela rota diária e observa a cidade, ouve fragmentos de conversas de passageiros, escreve poesias num caderno, passeia com o cachorro, bebe uma cerveja no bar de sempre e, finalmente, volta para casa, para a esposa Laura (Golshifteh Farahani). Ela, em contraste, vive num mundo que sempre muda, com novos sonhos diários. Eles se amam. Ele a apoia no alcance das novas ambições, ela festeja nele o dom da poesia.

O sentimento melancólico do filme, que ocorre ao longo de uma semana, adota os ritmos da vida cotidiana, localiza a intensidade na placidez e reverbera com ecos e elaborações sobre as coisas anteriormente referenciadas. Adam Driver (Star Wars - O Despertar da Força) compõe brilhantemente em seu personagem um homem calmo e observador, que não se incomoda com sua rotina. Centrado em uma performance perfeitamente modulada, sem transparecer melancolia ou até mesmo depressão vindo do personagem. 

Entretanto, Golshifteh Farahani (Dois Amigos) em uma performance feita para transparecer a alegria, que é mercurial em todas as coisas, exceto sua constante devoção recíproca a Paterson, sua crença em seu gênio e seu gosto por preto e branco - seja nos filmes, roupas, decoração do seu lar, cupcakes e seu violão. A natureza de sua relação, que é quase antiquada em sua cortesia, parece baseada no simples desejo de tornar tudo mais agradável possível um para o outro, o que pode parecer presunçoso, mas ao invés disso é aspirante e emocionante. 

Um detalhe precioso do filme, é que podemos conhecer muito sobre a cidade de Paterson. As pessoas famosas que viveram lá - William Carlos Williams cuja a obra ''Paterson'' é bem citada no longa, Allen Ginsberg, Lou Costello, Sam & Dave, Fetty Wap - são todos mencionados, e a maioria deles tem uma imagem na parede por trás do Bar Doc (Barry Shabaka Henley). No ônibus é  citado em uma das conversas sobre o líder anarquista italiano-americano do final dos anos 1800, e em algum momento Paterson residente, Gaetano Bresci.

Outro detalhe precioso é a sua fotografia que ganha até contraste no reflexo da janela do ônibus, nos tijolos da construção das antigas fábricas de Paterson, assim como, a belíssima cachoeira no parque Great Falls no qual o protagonista senta em um banquinho no seu intervalo de expediente para fazer um lanche e escrever sua poesia. Por falar em poesia, pequenos detalhes são passados ao longo do filme por meio de metáforas, a exemplo da presença da repetição com a geminação ou gêmeos - tornado o filme equivalente a um esquema de rima.

Paterson (2016) é sobre encontrar a beleza em coisas cotidianas (como uma simples caixa de fósforo da marca ''Ohio Blue Tip''). Sendo mais uma inspiração que Paterson escreve todos os dias em seu caderno e bebe uma cerveja todas as noites no bar após uma caminhada com o Marvin que descansa do lado de fora sob o letreiro néon azul de forma poética. Um filme invulgarmente encantador cheio de pequenas sabedorias e confortos silenciosos onde poderíamos esperar encontrar provocações, seu único engano é que ele é muito mais rico do que parece à primeira vista.

Direção: Jim Jarmusch

Roteiro: Jim Jarmusch

Elenco: Adam Driver , Golshifteh Farahani , Rizwan Manji e Barry Shabaka Henley.

Distribuição: Amazon Studios

Minha Avaliação: | 5,0 | Excelente