Por Tarcísio de Andrade,
A história fonográfica nos ensinou que as experiências envolvendo gravações de música popular com acompanhamento de orquestras sinfônicas ou filarmônicas resultam sempre, quase sempre, em fiasco.
Chico Buarque de Holanda, por exemplo, quando passou uma temporada na Itália no final dos anos 1960, os amici lhe deram uma força e ele gravou um disco, Per um pugno di samba, cantando seus sucessos em italiano, sob arranjos e regência de Ennio Morricone. Aliás, o disco é creditado à dupla. As canções de Chico não se mostraram à altura da grandiosidade dos arranjos do maestro Morricone - são só uns sambinhas, nem Morricone deu jeito. Resultado: pariu-se um disco chocho. Nem Roda Viva (Rotaviva) se salvou - aqui até Fernanda Porto se houve melhor com sua versão dance em 2004.
Mais recente, ano passado, atendendo a milhões de fãs, o A-Ha cercou-se de cordas e madeiras para gravar seu acústico: MTV Unplugged - Summer Solstice. Ouço o disco, sento no sofá e assisto o DVD. O que faltou? Sintetizadores. As canções do A-Ha nāo são solenes, não são grandiosas. As canções do A-Ha dispensam arranjos de corda, mas não dispensam sintetizadores – mas as músicas do A-Ha também não funcionam na base da voz e violão! O acústico merece ser visto e ouvido pelas participações especiais de Ian McCulloch (Mr. Echo and The Bunnymen) interpretando a lendária The Killing Moon, e da surpreendente Ingrid Helene Håvik em The Sun Always Shines on TV.
A Brand New Me - Aretha Franklin with The Royal Philarmonic Orchestra é o mais recente disco de Aretha Franklin e celebra os 75 anos de vida da cantora, a rainha do soul, a maior expressão feminina da Atlantic Records. O release anuncia: o novo álbum une os vocais clássicos das mais icônicas canções da Rainha do Soul com novos arranjos interpretados magistralmente pela Royal Philarmonic Orchestra. De acordo em relação a Aretha Franklin. Em relação à Royal Philoarmonic Orchestra, ela está aí para qualquer propósito, acompanha qualquer projeto, grava com quem contratar.
A PROVA DE FOGO: OS OUVIDOS E A CINTURA
Respect,Think, Don’t play that song (you lied). I say a little prayer, (You make me feel like) A Natural Woman, A Brand New Me… a seleção das canções contempla os maiores hits da cantora ao longo de 50 anos de estrelato.
A interação entre Aretha, coral e orquestra é o segredo para o sucesso do projeto. A integração da orquestra às canções é completa, diferente da grande maioria das gravações, no disco de Aretha, quando a orquestra se insere, ela não aparece como uma intervenção alienígena, estranha às canções.
Em quaisquer dos clássicos soul regravados, eu ouço e não me chamam à atenção cordas ou naipes exagerados. Exceto nas introduções,. Eu ouço e os joelhos se movimentam, eu penso, eu gostaria de estar numa pista de dança. Nem tudo são flores – vivendo e não aprendendo: Mais uma vez Aretha Franklin grava Oh Me Oh My (I’m a Fool for You, Baby). Já havia gravado em 1972. Três anos antes Lulu, atriz (Ao Mestre com Carinho) e cantora inglesa, havia obtido um retumbante sucesso, seu segundo sucesso mundial, com a canção.
Eu gosto muito de música de música pop, eu gosto bastante de Aretha Franklin e de Oh Me Oh My também. Posso dizer, mais uma vez que a gravação de Aretha foi desastrosa. Por que tentar transformar uma canção boba , uma música para adolescentes apaixonados, em uma masterpiece? Aretha é over. No mais, tudo ótimo. Ah, sim, Por que gravar Son of a Preacher Man? Por que invocar um ícone? A gravação está legal, muito boa até. Mas deixe Dusty Springfield permanecer nos nossos corações.
Agora sim, tudo ótimo.
***
Tarcísio ou Tatá, nasceu em 1967 no Recife. Radicou-se em Aracaju no início dos anos 1970. Graduou-se em Comunicação Social pela Universidade Federal de Sergipe. Alvirrubro, torce pelo Sergipe e pelo Náutico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante!
Seu comentário será visualizado por todos.