Escrito pelo britânico Neil Gaiman (autor de “Deuses
Americanos”, “Oceano no fim do caminho” e “Lugar Nenhum”) e ilustrado pelo
italiano Lorenzo Mottotti, o livro João e Maria, publicado pela editora
Intrínseca, é uma releitura mais sombria da história infantil.
Na verdade, a história de Gaiman também é dedicada
ao público infantil, porém traz elementos, mesmo que implícitos e subjetivos,
de algo muito mais macabro e sombrio do que a história original. No sentido
literal, é realmente ambientada no cenário de escuridão, como ilustram bem as
imagens de Lorenzo Mattotti.
A escrita de Neil Gaiman tem toques poéticos de
escuridão, doses de ingenuidade infantil e muito mais oculto do que explícito.
Aos olhos de Gaiman, como citado pelo mesmo numa entrevistada à editora
Françoise Mouly, “Acho muito importante mostrar as coisas obscuras para as
crianças”, e explicando seu argumento, conclui: “Também para mostrar a elas que
coisas obscuras podem ser derrotadas.”
(Entrevista citada)
(Entrevista citada)
Apesar de se comprometer, desde o princípio, a ser uma história para crianças, a releitura de João e Maria, de Gaiman e Mottotti, é uma história universal, para não dizer adulta e muito complexa. A maneiro correta de descrevê-la seria um conto profundo, com camadas e camadas abertas a interpretação de crianças, adultos e qualquer um.
Os desenhos de Lorenzo, transmitem exatamente isso.
O preto e branco deles nos faz imergir na história; num mundo sem luz, onde a
escuridão é companhia o tempo todo. O traço da arte do italiano, assim como a
escrita de Gaiman, tem camadas e camadas a serem interpretadas. Em alguns
pontos a subjetividade serve tal qual uma ferramenta para causar-nos medo, pois
no fundo sabemos que não depende apenas de nós mesmo.
O mais interessante desta obra, que é bem curtinha,
tem uma diagramação bem espaçada e uma quantidade pequena de páginas, é como um
mito universal pode ser recontado milhares e milhares de vezes de formas tão
profundas e distintas. O livro em si, com sua charmosa capa dura, é composto
por um conto (em medida de palavras) e uma galeria de ilustrações.
Considero um ótimo livro para qualquer pessoa, independente de idade. E fico curioso de saber como seria lê-lo para uma criança, na medida que hoje em dia não consideramos mostrar o que é ser um canibal para nossos filhos de 6 ou 7 anos, acredito que seria uma experiência e tanto. E como fã dos clássicos dos irmãos Grimm, e quase todas histórias, à lá Disney, folclore clássico, eu amei essa obra. Fica a dica pra quem gosta de terror e fantasia, de releitura de clássicos e histórias feitas para crianças de verdade!
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